Vida e Obra

Eduardo Lourenço

Biografia

Eduardo Lourenço nasceu em São Pedro de Rio Seco (Almeida) a 23 de Maio de 1923. Frequentou o Liceu da Guarda e cursou Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, fazendo-se já sentir da sua parte uma atitude crítica e um pensamento autónomo. Após o curso, leccionou nessa faculdade como professor assistente, iniciando a sua colaboração em revistas como a Vértice, onde se estreou com um poema e onde foi publicando os ensaios mais tarde reunidos em Heterodoxia I, numa primeira edição de autor, em 1949. A sua actividade docente viria a estender-se até 1953, ano que marcou o início do seu exílio voluntário, por estar desapontado com a vida académica portuguesa, não chegando a apresentar a tese de doutoramento, então em projecto, sobre o tema «Tempo e Verdade». A partir de 1954, leccionou em universidades estrangeiras nas cidades de Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, São Salvador da Baía, Grenoble e Nice, aposentando-se desta última em 1988, e ficando a viver na região (Vence). Atento à realidade portuguesa, participou, apesar do seu afastamento, na vida política do país através da sua obra escrita e até do apoio a figuras e candidaturas políticas.

A sua abordagem crítica da realidade, inicialmente inspirada pelo neo-realismo, aproximou-se depois do existencialismo, por contacto com a obra de pensadores franceses. Não se deixou, no entanto, condicionar por estas influências, filtrando e analisando as motivações menos evidentes no comportamento dos portugueses como povo. A produção ensaística de Eduardo Lourenço, abrangendo diversas áreas, da literatura e da arte aos acontecimentos políticos contemporâneos, tornou-se um fenómeno singular na cultura portuguesa, orientada por uma constante argumentação personalista. A sua obra tem sido também permeada pela literatura, levando-o a escrever sobre escritores portugueses, como Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Agustina Bessa-Luís, Jorge de Sena e José Saramago, entre outros, voltando a temas políticos quando a realidade o motiva a tal, como no caso da integração de Portugal na Europa.

Intérprete maior das questões da cultura portuguesa e universal, Eduardo Lourenço é tido como um dos mais prestigiados intelectuais europeus.

 

Prémios e distinções

  • 1981
    Condecorado com a Ordem de Santiago da Espada, concedida por mérito literário, científico e artístico.
  • 1984
    Premiado com o Prémio Nacional da Crítica Jacinto do Prado Coelho.
  • 1988
    Recebe o Prémio Europeu do Ensaio “Charles Veillon” pelo conjunto da sua obra.
  • 1992
    Recebe a Ordem do Infante D. Henrique (Grande Oficial).
    Prémio António Sérgio.
  • 1995
    Doutoramento Honoris Causa, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
  • 1996
    Premiado com o Prémio D. Dinis e o Prémio Camões. Foi ainda condecorado no mesmo ano com o grau de Oficial da Ordem Nacional de Mérito de França.
    Doutoramento Honoris Causa, pela Universidade de Coimbra.
  • 1998
    Doutoramento Honoris Causa, pela Universidade Nova de Lisboa.
  • 1999
    Homenageado pela Câmara Municipal de Cascais.
  • 2000
    Distinção de Chevalier de L’Ordre des Arts et dês Lettres, pelo governo francês.
  • 2001
    Premiado com o Prémio Vergílio Ferreira.
  • 2002
    Condecorado pela França, com a Legião de Honra, no grau de Cavaleiro.
  • 2006
    Galardoado com o prémio “Melhor Trajectória Literária de Autor Iberoamericano”, instituído pela Junta da Extremadura (Espanha).
  • 2007
    Distinguido pela Universidade de Bolonha (Itália) com o título Doutor Honoris Causa em Literaturas e Filologias Europeias.
  • 2008
    Medalha de Mérito Cultural pelo governo português e Medalha de Ouro da Cidade da Guarda.
  • 2009
    Encomienda de Numero de la Orden del Mérito Civil pelo Rei de Espanha.
  • 2011
    Prémio Vida e Obra da Sociedade Portuguesa de Autores.
  • 2011
    Prémio Pessoa.
  • 2012
    Prémio Universidade de Lisboa.
  • 2014
    Ordem da Liberdade (Grã-Cruz).
    (Condecoração atribuída pelo Presidente da República na Sessão Solene comemorativa do 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, na Guarda).
  • 2016
    Prémio Vasco Graça Moura
    Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural (Centro Nacional de Cultura / Europa Nostra / Clube Português de Imprensa), ex aequo com o cartoonista francês Plantu.

 

 Obra

Não é possível elaborar bibliografias de e sobre Eduardo Lourenço. Provam-no as muitas e variadíssimas que estão feitas e publicadas e que o leitor atento certamente conhece. Coisa bem diferente, e porventura inalcançável, será estabelecer a lista completa ou definitiva dos textos que Eduardo Lourenço escreveu ou mesmo publicou até hoje. Há sempre um artigo que falta ou uma outra entrevista que, entretanto, surge, vinda não se sabe muito bem de onde.

Quando comecei a preparar a minha dissertação de Doutoramento em Filosofia na Universidade de Évora sobre o pensamento de Eduardo Lourenço, propus-me, desde logo, encontrar, organizar e estudar todos os textos publicados pelo autor. Contudo, cedo me apercebi que se tratava de uma tarefa permanentemente inacabada. Por isso, quando entreguei na Universidade o texto dessa minha Dissertação, no Verão de 2002, tinha recenseado vinte e três livros, quarenta prefácios e 764 textos de autoria de Eduardo Lourenço, além de 49 entrevistas e 339 artigos ou estudos dedicados à figura ou obra de Eduardo Lourenço. Entretanto, tomei conhecimento que, na sequência das investigações desenvolvidas também com vista a uma Tese de Doutoramento que apresentou à Universidade de Aveiro, Maria Manuel Baptista elaborou e publicou as duas outras listas bibliográficas mais extensas que conheço de textos redigidos por Eduardo Lourenço. Essas duas listas (que são praticamente coincidentes, com alterações de mero pormenor e algumas actualizações) representam um invulgar trabalho de pesquisa académica e têm um valor e uma importância que nenhum investigador da obra de Eduardo Lourenço pode ignorar.

Desde então e até hoje (no sentido literal do termo), estes repertórios têm vindo a ficar cada vez mais, e de modo irremediável, desactualizados, o que, bem vistas as coisas, só pode constituir uma excelente notícia para os amigos do pensamento de Eduardo Lourenço, por dois motivos: por um lado, começam a aparecer cada vez mais estudos, textos, investigações sobre uma obra que, também assim, exibe a sua enorme vitalidade.

O que agora se apresenta resulta da actualização e aperfeiçoamento da minha própria bibliografia de 2002 e de um cruzamento de dados com as listas da autoria de Maria Manuel Baptista. Por razões de metodologia, só são aqui referidos textos de que disponho cópia ou, pelo menos, que tive a possibilidade de confrontar directamente. Daí que haja outros textos cuja referência conheço, mas que não constam desta lista porque não tive ainda a oportunidade de os ter entre mãos. Dito isto, importa acrescentar que optei por ordenar os títulos de acordo com o seguinte esquema:

  • Livros de Eduardo Lourenço
  • Livros de Eduardo Lourenço em co-autoria
  • Artigos, capítulos de livros colectivos e prefácios de Eduardo Lourenço
  • Entrevistas e mesas-redondas com Eduardo Lourenço
  • Artigos e estudos sobre Eduardo Lourenço

Em síntese, trata-se de uma lista de títulos que, apesar da sua considerável extensão, não tem a pretensão de ser a bibliografia de e sobre Eduardo Lourenço. No momento em que for publicada já estará, também ela, ultrapassada pelo tempo. Por isso, desejo que seja vista como se fosse uma outra biblioteca que doravante abre também as suas portas. Por outras palavras, um espaço e um convite à leitura e ao estudo de um pensador que, como ele próprio diz numa das suas mais recentes intervenções públicas, está em dívida para com a humanidade inteira. Antes de mais, para com ele e para com a sua obra. A bibliografia que agora, se oferece ao leitor é, uma forma de testemunhar essa dívida que, por ser infinita, nunca poderá ser verdadeiramente saldada.

LIMA, Tiago Pedroso de – Uma biblioteca aberta para uma dívida infinita. in Bento, Virgílio coord. – Leituras de Eduardo Lourenço: Um labirinto de saudades, um legado com futuro. Guarda: Centro de Estudos Ibéricos, 2008. ISBN 978-972-99435-7-7