Realizou-se no dia 19 de junho de 2023, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço a Mesa-redonda “Algumas leituras da Europa em Eduardo Lourenço”, que contou com a participação de: Ana Paula Coutinho (ILCML / Universidade do Porto), Dulce Martinho (Professora do Ensino Secundário) e Jorge Costa Lopes (ILCML).
No ano do centenário do nascimento de Eduardo Lourenço (1923-2020), o ILCML – Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e a APEF – Associação Portuguesa de Estudos Franceses, em parceria com o CEI – Centro de Estudos Ibéricos e a BMEL – Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, organizam uma mesa-redonda sobre “Algumas leituras da Europa em Eduardo Lourenço”.
Segundo o autor de O Labirinto da Saudade, um europeu é, “no essencial, o herdeiro de uma educação milenária de que, sabendo-o ou não, recebeu um certo tipo de mitos, de conhecimentos, de histórias e, com isso, alguma inspiração para tentar preservar no seu ser ou adequá-lo às novas metamorfoses do mundo. Em suma, um produto da chamada cultura europeia” (2009). Podemos afirmar, entretanto, que existe, na escrita lourenciana, uma paixão pela Europa, o mesmo é dizer, uma “paixão de compreender” a Europa, mesmo que manifeste, por vezes, um certo “desencanto” pela deriva europeia, nomeadamente após a queda do muro de Berlim (1989). De qualquer modo, na obra e no pensamento deste “europeu convicto” e “cruzado” da Europa, como também se autointitula, a Europa surge, desde logo, no livro de estreia, Heterodoxia I (1949), mais concretamente no seu primeiro capítulo, “Europa ou o diálogo que nos falta”. Mais tarde, em Nós e a Europa ou as Duas Razões (1988), o relacionamento e, inevitavelmente, o diálogo cultural do nosso país com a Europa e da Europa com Portugal, atravessam praticamente todos os seus ensaios. Isto sem esquecer a importância do nosso diálogo com a vizinha Espanha e da Ibéria com os países transpirenaicos. Num outro título, A Europa Desencantada – Para uma Mitologia Europeia (1994), com alguns ensaios publicados inicialmente em L’ Europe introuvable – Jalons pour une Mythologie européenne (1991), o pensamento de Eduardo Lourenço concentra-se, sobretudo, no impacto que o desmoronamento do império soviético provocou na Europa comunitária, bem como na frágil posição europeia face às Guerras do Golfo e do Kosovo, e ao seu único vencedor, os Estados Unidos da América. Apesar do desencanto com o bloqueio e a consequente incerteza do projeto europeu, Eduardo Lourenço assume, contudo, a utopia europeia e o “desejo de uma Europa que não seja apenas uma bem-sucedida coleção de egoísmos nacionais” (2001). O lugar e a imagem da França na Europa e no novo mapa mundial, cultural e geopolítico, são também objeto de reflexão neste último volume.