A Nova Igreja de São Vicente: Construção e estética 

Em 1790 um novo templo surgiu no coração da cidade da Guarda...

  • António Prata Coelho (APC), texto e fotografia
  • Daniel Martins (DM)
  • Antonieta Pinto (AP)

Oficina de História da Guarda, julho 2018

Em 1790 um novo templo surgiu no coração da cidade da Guarda – a nova Igreja de São Vicente, no bairro do mesmo nome. Foi construída na mais antiga praça da cidade, um espaço cuja génese remonta à Idade Média. O núcleo populacional medieval, com malha urbana irregular e sinuosa, acompanhava o espaço muralhado. Integrava uma zona de judiaria e duas praças principais, junto de edifícios religiosos cristãos – Santa Maria do Mercado e São Vicente. A partir do início do século XV podemos referir a existência de uma terceira praça intra-muros, o Largo do Paço do Biu[1]. Não que a cidade estivesse toda contida dentro dos muros medievais. São de 1230 as primeiras referências a igrejas do arrabalde, o que segundo Rita Costa Gomes, é “indicador importante da instalação dos habitantes fora dos muros”[2]. As paróquias na cidade da Guarda eram três, limitadas pela muralha. Duas estavam inteiramente intramuros – São Vicente e Santa Maria do Mercado - enquanto a da Sé já incluiria espaço extramuros.

Como refere Maria José Ferro Tavares[3], a praça de São Vicente apresenta uma centralidade no espaço urbano. É ponto de confluência entre os dois eixos urbanos medievais mais importantes da Guarda – um que ligava a porta da Covilhã, próxima da Torre de Menagem, à porta do Curro; o outro que estabelecia a ligação entre a Porta d’El Rei e a Porta da Erva. Este era o espaço nuclear de um mundo económico e social marcado pela relação, nem sempre pacífica, entre os cristãos e a comunidade judaica. De referir que a antiga judiaria  “acompanhava a muralha e o eixo viário que saído da porta d’El Rei se dirigia para a Igreja de São Vicente e para a rua que lhe era perpendicular, onde se fazia a feira”.[4] No Tombo da Comarca da Beira há referências claras à existência de um mercado e de um alpendre junto da antiga igreja.[5]

A Praça de São Vicente tinha assim funções económicas e religiosas, para além de ser zona de convivência entre os habitantes da urbe. Era aí que, desde o séc. XIII, segundo os aforamentos régios de D. Dinis, conviviam livremente as duas comunidades religiosas – a cristã e a judaica. Só em 1465, nas cortes realizadas na Guarda por D. Afonso V, se decidiu que a judiaria da Guarda começaria a ser fechada por portas, o que não impediu a continuação da ligação entre as comunidades num espaço contíguo.

A Igreja medieval de São Vicente, tinha, segundo Rita Costa Gomes, a orientação convencional[6], com a sua cabeceira virada para Nascente e o portal para Poente. Esta orientação implicava que a porta de entrada da igreja cristã estivesse virada para a zona onde vivia a população judaica. Da dimensão e planta dessa igreja original pouco se sabe. Apenas se pode afirmar que se encontrava na Praça de São Vicente, e que no seu adro existia um cemitério cristão, referido nas queixas dos procuradores do município, a D. Afonso V, nas cortes da Guarda de 1465.[7]

Esta igreja dará lugar, no final do século XVIII, à atual Igreja de São Vicente. Este novo edifício teve como patrono o bispo da Guarda, D. Jerónimo Rogado do Carvalhal e Silva.

O patrono e o criador do Risco

A figura do bispo D. Jerónimo é fundamental para a compreensão não apenas do novo edifício da Igreja de São Vicente mas também do contexto que deu origem à sua reedificação. D. Jerónimo Rogado do Carvalhal e Silva, Bispo da Guarda entre 1773 e 1797, nasceu na Guarda a 7 de Dezembro de 1720 e foi batizado, na mesma Igreja de São Vicente, a 1 de Janeiro de 1721.[8] Era filho de D. Luís de Oliveira Almeida Osório, natural da Guarda, e de D. Maria Marta de Vasconcelos Zuzarte do Carvalhal, natural de Alter do Chão. Faleceu na Guarda a 19 de fevereiro de 1797[9]  e foi sepultado na Sé Catedral, em espaço com lápide encomendada por ele.  

Jerónimo Rogado do Carvalhal e Silva, Bispo da Guarda[10]

Entre 1739 e 1744 D. Jerónimo frequentou a Faculdade de Cânones, da Universidade de Coimbra, onde concluiu o bacharelato e a licenciatura. Em 1747 fez diligências de habilitação para o Santo Ofício. No ano seguinte (1748) foi ordenado diácono e padre. Restam alguns vestígios documentais da sua atividade no Santo Ofício. Enquanto inquisidor foi responsável, em colaboração com Francisco Mendo Trigoso, futuro bispo de Viseu, pela elaboração de um “Culpeiro”.[11]

Em 22 de Janeiro de 1766 D. Jerónimo foi nomeado bispo de Portalegre pelo rei D. José I, cargo que só virá a ser confirmado a 4 de Agosto de 1770, por terem estado interrompidas as relações de Portugal com a Santa Sé.[12] As escolhas dos bispos, desde o reinado de D. Manuel I (1495-1521), passaram a ser feitas pelos monarcas. O papa geralmente sancionava a proposta apresentada. Este procedimento resultou da centralização do poder régio que visava uma maior capacidade de domínio sobre a igreja portuguesa.[13]

A partir de 1756, o futuro Marquês de Pombal assumiu a intenção de dominar a Igreja e o clero: para tal fim operaram-se modificações no processo de escolha dos bispos e utilizou-se o sistema de promoções visando o controlo das dioceses mais importantes. Sebastião José de Carvalho e Melo, enquanto ministro de D. José, colocou em prática um meticuloso plano com base nos tratados do Oratoriano António Pereira de Figueiredo, nomeadamente o texto Doctrina Veteris Ecclesiae, que tinha como objetivo atribuir ao monarca um “domínio absoluto sobre a Igreja”.[14] O conjunto de produção legislativa apresentado a partir de 1762 reflete o desejo do Marquês de Pombal de exercer controlo sobre os bispos e o consequente fortalecimento do poder do Estado.[15]

De acordo com os ideais do despotismo esclarecido, Pombal procurou reforçar a secularização do estado e afirmar a soberania em relação ao poder papal. Era necessário que "à frente das dioceses estivessem pessoas da sua máxima confiança".[16] A escolha dos bispos passou a ter uma “articulação profunda com o exercício da política e com a hegemonia que no seu centro, por variados modos, se conseguia alcançar."[17] A somar a esta situação não se pode deixar de acrescentar a lógica das clientelas familiares, subordinadas à ordem política e aproveitadas pelos órgãos de poder como garantia da sua afirmação.[18] Assim, como observou José Pedro Paiva, "31.8% das dioceses providas no tempo de D. José I resultam de transferências/promoções de quem já era bispo. E a maioria delas foram feitas depois de 1756, para agraciar servidores empenhados do ministro."[19] D. Jerónimo Rogado de Carvalhal e Silva foi inicialmente bispo de Portalegre, de 1770 até 1773, e foi posteriormente transferido para o episcopado da Guarda ainda em Março de 1773, tendo sido confirmado em consistório a 10 de junho do ano seguinte.

Critérios políticos e não tanto religiosos estiveram, assim, por detrás da escolha de muitos bispos no século XVIII. Não obstante esta circunstância, D. Jerónimo Rogado Carvalhal e Silva aparece-nos como um prelado preocupado com as suas competências episcopais. São conhecidas três pastorais impressas da sua autoria, promulgadas entre 1770 e 1773, dirigidas aos diocesanos e eclesiásticos do seu bispado.[20] Muitos aspetos da sua atuação continuam por estudar, apesar do muito que se progrediu nos últimos anos para esclarecer o seu patrocínio da música. Enquanto bispo da Guarda, para além das funções episcopais, D. Jerónimo esteve envolvido na criação de uma escola pública de música, assim como na reforma do grande órgão da Sé Catedral. Na década de 1780, no sentido de dar continuidade ao esforço do bispo anterior, atribuiu os cargos de mestre de capela da catedral bem como o de diretor da escola de música a José dos Santos Maurício, destacado músico de Coimbra.[21] Do ponto de vista do seu patrocinato artístico, sabemos que promoveu a decoração da Capela do Santíssimo Sacramento na Sé Catedral, bem como a criação da sua lápide funerária na mesma igreja. A Igreja Paroquial de Aldeia Viçosa foi também ornamentada sob o seu incentivo.[22]

Segundo inscrição colocada junto da Pia Baptismal de São Vicente, a igreja desta paróquia da cidade foi o resultado do seu mecenato.  

A igreja dataria de 1790 (mas trata-se do início da construção, ou do fim da mesma?), e o seu “risco” tem sido atribuído a António Fernandes Rodrigues.

Inscrição junto da pia batismal, Igreja de S. Vicente

O arquiteto que desenhou a nova Igreja de São Vicente, António Fernandes Rodrigues, foi, entre 1759 e 1762, estudante de artes em Roma e Florença, sob o patrocínio do Marquês de Pombal. Sabemos que nasceu em Mariana, Minas Gerais, no auge da exploração mineira que levou ao crescimento económico e demográfico da região brasileira. Era filho de um português e de uma “crioula”, segundo nos dizem as fontes coevas.

Mapa de Mariana no século XVIII (Mapoteca do Itamarati)

Mariana teve a sua origem no arraial de Ribeirão do Carmo, transformado em vila em 1711 e elevada à categoria de cidade, segundo Carta Régia de Abril de 1745[23]. Dada a sua importância económica para o reino, a cidade foi alvo de um planeamento urbano estabelecido por D. João V em Provisão de 2 de Maio de 1746, no qual se apresenta a necessidade de eleger “sítio para praça espaçosa”. Para este plano de intervenção foi indicado, em 1742, por ação de Gomes Freire de Andrade, um dos mais competentes engenheiros militares do século XVIII, José Fernandes de Pinto Alpoim[24]. As orientações do rei foram zelosamente cumpridas e a cidade surgiu com ruas retas, praças amplas, catedral com perspetiva desafogada, casa da câmara e cadeia.

As transformações de Mariana na década de 1740, nomeadamente no que diz respeito à construção de igrejas, seminário, e paço episcopal, podem seguir-se na copiosa correspondência do Bispo Frei Manuel da Cruz[25]. O futuro arquiteto terá assistido a estas transformações urbanística na sua região natal, mas cedo vai para o Rio de Janeiro onde estudou gramática latina, música e desenho. Em 1758 veio para Lisboa, daí para Roma e depois para Florença como atrás referido.[26] Regressou definitivamente a Lisboa em 1762 onde passou a trabalhar como gravador e arquiteto.

Das suas obras salientamos o Desenho da Alegoria ao Marquês de Pombal (1762), o projeto para cemitério-tipo em Lisboa (1791) e o “Prospecto da Máquina de Fogo de Vista” (1793).

Alegoria ao Marquês de Pombal, 1762[27]
Projecto para cemitério-tipo em Lisboa, 1791[28]
Prospecto da Máquina de Fogo de Vista, 1793[29]

Estas três obras muito diferentes ilustram bem a multiforme atividade de Fernandes Rodrigues em Lisboa, como desenhador e gravador, como arquiteto, e como projetista de arquitetura efémera (neste caso, para comemorar em 1793 o nascimento da filha do Príncipe Regente, o futuro D. João VI). Segundo o contemporâneo Volkmer Machado, que o conheceu bem, o artista fez o risco de São Vicente da Guarda no período lisboeta da sua vida, certamente após 1773.[30]

A partir 23 de Abril de 1781 António Fernandes Rodrigues foi convidado, por Pina Manique, para dirigir a Aula de Desenho na Casa Pia do Castelo. Segundo o seu plano de estudos, a Casa Pia era local onde os alunos deveriam ser tratados “com civilidade” e inspirados na “verdadeira nobreza” que reside nas “virtudes moraes” e em ser “útil à Pátria e em geral ao próximo”.[31]  Transmitia-se nesta escola um novo ideal de nobreza que colide já com o conceito tradicional do nobre de Antigo Regime. A instituição apresentava-se deste modo como espaço de introdução e difusão das ideias iluministas que grassavam na Europa e começavam a despontar em Portugal. Já no governo do Marquês de Pombal essas ideias serviram a centralização do poder, desafiando a importância da nobreza tradicional e preparando a renovação da sociedade. Os ideais iluministas influenciavam este conceito de educação e de sociedade que o plano de estudos da Casa Pia claramente promove. Um professor convidado para a Casa Pia pelo seu responsável máximo partilharia certamente estes ideais que progressivamente entravam em Portugal através de estrangeirados, como ele.

A circulação destas ideias iluministas fazia-se igualmente no meio académico, pois não era apanágio apenas da Casa Pia. Em Coimbra eram motivo de tertúlias, de circulação de livros e apoio às medidas reformistas implementadas por Pombal. Foram, no entanto, motivo de intervenção da Inquisição quando o momento político se alterou com a subida ao poder de D. Maria I.[32] Parece-nos que haveria uma afinidade entre os princípios que norteavam o ensino na Casa Pia e o ambiente iluminista coimbrão. No círculo do primeiro ambiente estaria o arquiteto de São Vicente. Mas o que poderia ter unido um Ministro do Santo Ofício a um artista formado no estrangeiro e ativo nos círculos ligados à Casa Pia? Que ligação se poderá estabelecer entre este homem e o bispo que lhe encomendou a obra?

Na sua grande maioria, os bispos nomeados por Sebastião José de Carvalho e Melo acataram a hegemonia do primeiro ministro e submeteram-se às suas diretivas. Pesava na escolha dos eleitos à nomeação do cargo episcopal ter passado pelo Tribunal do Santo Ofício, pela Universidade, entretanto reformada por Pombal, ou pela recentemente criada Real Mesa Censória. Dos bispos nomeados a partir de 1770, 50% eram inquisidores, como era o caso de D. Jerónimo Rogado de Carvalhal e Silva (Portalegre, 1770 e Guarda, 1773).[33] Todos tinham percursos semelhantes: filhos de pais ricos, com formação universitária, todos passaram pelo Tribunal do Santo Ofício. Deve acrescentar-se que "a partir de 1761 [a Inquisição] passou a ser dirigida pelo irmão de Pombal, o qual teria um conhecimento próximo dos posicionamentos e atividades dos inquisidores e deputados do Conselho Geral".[34] A adesão destes bispos ao iluminismo católico foi facilitada pelo governo pombalino, a par com a crítica aos Jesuítas.

A Universidade de Coimbra foi também local de recruta de bispos por Pombal. Aí Sebastião José de Carvalho e Melo foi ao encontro de homens de cultura que, tendo aderido nalguns casos aos princípios iluministas, corresponderiam aos anseios de secularização do Estado. Como referido anteriormente, D. Jerónimo frequentou a Faculdade de Cânones, da Universidade de Coimbra, entre 1739 e 1744, onde concluiu o bacharelato e a licenciatura. Sabemos que o bispo sendo Ministro do Santo Ofício frequentava também a capital, embora não tenhamos encontrado ainda ligações claras ao círculo de Pina Manique, que entretanto assumiu a direção da Intendência Geral da Polícia (em 1778) e criou a Casa Pia em 1780, onde como vimos se adotaram as novas ideias sobre educação. Não conseguimos apurar quem colocaria D. Jerónimo em contacto com o arquiteto que dirigia a aula de Desenho criada por Pina Manique, como anteriormente referido.[35] Em todo o caso, a proteção de Pina Manique ao artista continuou a ser uma constante da sua carreira, como o demonstram as suas obras dos anos de 1780 e 1790, fato que certamente seria do conhecimento do Bispo da Guarda.

Sendo Pombal especialmente atento à escolha e nomeação episcopal, configura-se-nos pertinente a hipótese de o bispo da Guarda, D. Jerónimo Rogado do Carvalhal e Silva, estar também próximo deste pensamento reformador. Eram escolhidos para nomeação episcopal os que já tinham dado provas em instituições criadas ou reformadas por Pombal, como a Real Mesa Censória, o Tribunal do Santo Ofício ou a Universidade de Coimbra. "Ser anti-jesuíta tinha passado a ser um fator de peso no momento em que se apuravam candidatos ao episcopado", afirma o historiador José Pedro Paiva[36] . Lembremo-nos que D. Jerónimo Rogado de Carvalhal e Silva, enquanto ministro do Santo Ofício foi corresponsável pela elaboração de um “culpeiro” no qual eram imputadas culpas ao padre Malagrida. Com este processo terá dado suficientes provas da sua posição critica em relação ao papel dos Jesuítas na sociedade portuguesa do século XVIII, posicionando-se a par com as pretensões do Marquês de Pombal de diminuir o poder da Companhia de Jesus ao mesmo tempo que o Tribunal do Santo Ofício se submetia aos interesses do Estado.[37]

Outra questão que se pode colocar é relativa à estética do edifício de São Vicente. Que dizer de um risco barroco da Igreja de São Vicente vindo de um homem que integrava uma instituição imbuída de princípios iluministas, onde a racionalidade devia prevalecer sobre a exuberância? Que pensar de um projeto de cemitério de influência neoclássica ao lado de uma Igreja Barroca? Terá o projeto de António Fernandes Rodrigues sido acompanhado por ele, ou levado a cabo por um desconhecido mestre de obras?

Estas questões não são de resposta fácil. Podemos afirmar que em Portugal, durante o século XVIII, não existiu uma verdadeira arquitetura do neoclassicismo. Uma parte significativa dos projetos neoclássicos levados a cabo resultaram de importações de arquitetos como John Carr (Hospital de Santo António, Porto), John Whitehead (Feitoria Inglesa, Porto) e de uma vasta empresa que resultou das ideias de Pombal e da tradição urbanística portuguesa – a Lisboa pombalina, o acontecimento arquitetónico do século XVIII em Portugal. Embora se tenha construído muito, entre nós o barroco prolongou-se até muito tarde enquanto o neoclássico revela, ao mesmo tempo, a relação da nossa arquitetura com o que se fazia na Europa. Este facto, segundo o historiador Varela Gomes, não pode esclarecer-se através da escassa teoria da arquitetura em Portugal, pois a “nova arquitetura erguida em Portugal no século XVIII fez-se sem teoria”[38]. Só Cyrillo Volkmar Machado, o biógrafo do arquiteto António Fernandes Rodrigues, produziu alguma teoria arquitetónica muito com base nas afirmações de outros autores. Criticou, por exemplo, a “libertinagem” portuguesa do barroco[39] e o seu exagero decorativo, o que faria dele mais um adepto do neoclassicismo. No entanto, entre 1794 e 1823 não se coibiu de fazer rasgados elogios ao trabalho do arquiteto de Mafra – Frederico Ludovice[40]. Surge também no seu discurso uma posição ideológica ao lado de valores aristocráticos que eram contrários a uma arquitetura que advogava, com lembra Varela Gomes, um certo “igualitarismo utilitário”.  Podemos, assim, afirmar que a apreciação da arquitetura portuguesa nos círculos em que participou Fernandes Rodrigues oscilava entre o barroco e a construção pombalina, entre a imponência e respeitabilidade do neoclássico e a extravagância sensorial do barroco.

É nesta ambivalência que podemos encontrar as respostas para uma compreensão dos trabalhos que conhecemos do arquiteto da Igreja de São Vicente. António Fernandes Rodrigues, homem do seu tempo, revela no conjunto da sua obra não lhe ser necessária a adoção de uma orientação precisa. Apresenta-nos trabalhos como “Prospecto da Máquina de Fogo de Vista” (1793) e a igreja de São Vicente (entre 1773 e 1780) de estética marcadamente barroca, enquanto que a alegoria intitulada “Desenho e elogio ao Marquês de Pombal” (1762) e o “Projeto para cemitério tipo em Lisboa” (1791) revelam uma outra linguagem (no primeiro caso eivada de símbolos maçónicos e greco-latinos) fazendo-os aproximar da estética neoclássica.

A Igreja

Face à controvérsia relativa à data de 1790 como conclusão ou início da obra foi feito levantamento dos registos de batismos na Paróquia de São Vicente, entre 1769 e 1797[41], como consta do gráfico apresentado. Da análise dos dados pode concluir-se que, no período correspondente à década de 1780, algo alterou a rotina paroquial. Nesse espaço de tempo verifica-se a ausência ou redução considerável de registos de batismo na Paróquia o que pode indiciar a existência de obras em curso. 1790 será, no nosso entender, a data de conclusão da obra pois esse momento coincide com a normalização dos registos paroquiais. A partir dessa data o número de batismos retoma valores semelhantes aos registados nos anos anteriores a 1780.[42]

O edifício apresenta hoje uma cobertura em duas águas, planta longitudinal, formada por dois retângulos justapostos sendo a nave única mais alta e mais larga que a cabeceira. É muito provável que o espaço da igreja medieval tivesse ficado subsumido na área mais vasta do edifício setecentista, como geralmente acontecia na tradição católica. Existiu anexa à igreja uma casa de residência do pároco que foi posteriormente vendida a particulares. Como veremos, a amplitude das obras e a associação dos dois edifícios num só projeto iniciava uma reforma, simultaneamente, do espaço urbanístico da praça de São Vicente mas também da própria paróquia, pois que modificava singularmente as condições de vida de um dos elementos constituintes desta: o pároco.

A fachada da igreja integra um corpo principal, ladeado pelas torres sineiras, composto por portal, janelão, brasão de armas do bispo, e rematada com frontão curvilíneo interrompido e encimada por cruz latina. As laterais do corpo principal estão ladeadas por duas pilastras coroadas por fogaréus.

Fachada principal
Porta principal
Pormenor - capitel

O portal de arco abatido com moldura dupla, em meia cana, das ombreiras ao lintel é ladeado por pilastras quadrangulares, com reentrâncias, de capitel jónico assente em pedestais. É rematado por frontão quebrado com cartela ao centro decorada com relevos vegetalistas e volutas nas laterais, a realçar o movimento resultante do frontão interrompido. As formas côncavas deste frontão afirmam a estética do Barroco pela congregação de massas salientes e reentrantes, fazendo suceder espaços vazios a espaços cheios. A encimar o portal encontra-se um grande janelão coroado com as armas do bispo D. Jerónimo Rogado do Carvalhal e Silva.

As torres sineiras apresentam-se mais recuadas em relação à fachada principal e salientes em relação ao corpo da igreja, reforçando o alinhamento vertical da fachada leste do templo.

As torres são retangulares, com três registos divididos por friso com ligeiras reentrâncias e saliências, próprias da gramática decorativa do Barroco. No primeiro registo, vê-se uma janela com arco abatido e moldura em granito decorada com meia cana no lintel. A torre sul apresenta no seu lado oeste porta de acesso às torres e ao coro alto. No segundo registo ambas as torres se encontram isentas de qualquer elemento decorativo, ostentando apenas a torre sul um relógio mecânico. No registo superior temos as sineiras em arco de volta inteira, coroadas por coruchéus nos ângulos e cobertas por um coruchéu bulboso.

Ao entrar na igreja pela porta principal, no lado direito, apresenta-se a pia batismal em granito, em êxedra de paredes decoradas com painéis de azulejo alusivos ao batismo de Cristo e a pedra gravada com a inscrição já anteriormente referida. É de aceitar a hipótese que a pia batismal seja a da igreja anterior, a mesma que segundo a inscrição serviu no batismo do bispo patrono das obras do edifício.

Pia Batismal

Por cima da porta principal surge o coro alto, em madeira, suportado por arco abatido em granito, apresentando forma de asa de cesto.

Coro alto

O interior do edifício é composto por dois retângulos de nave única com cobertura em abóbada de berço em madeira pintada a azul celeste. O arco triunfal de volta inteira, coroado com o brasão do bispo encomendador, divide a nave principal do altar mor. Os alçados laterais são simétricos e apresentam, cada um, porta de acesso lateral ao templo, púlpito, confessionário, janelão em cantaria com lintel decorado com moldura em meia cana, como acontece com as restantes aberturas do edifício. O pavimento da nave é soalhado enquanto que a capela mor apresenta no primeiro patamar um lajeado mais antigo, tendo o segundo nível um lajeado mais recente.

Toda a estrutura interior do templo, se despojado dos elementos decorativos compostos pelos retábulos e azulejos, revela uma simplicidade marcada por alçados laterais completamente direitos, por friso linear, e pela ausência de pilastras ou colunas que lhe provoquem a irregularidade típica da estética do Barroco. Em termos estruturais importa sublinhar que se trata de um edifício desornamentado lembrando a “arquitetura chã” comum em muitas igrejas portuguesas. Usando as palavras de Varela Gomes, diríamos que foi o azulejo neste caso a “dar voz” a um templo que sem ele seria apenas um vasto salão decorado com talha dourada. António Fernandes Rodrigues desenhou para a Guarda um conjunto arquitetónico que podemos considerar mais um exemplo da arquitetura do século XVIII, marcada pela “lenta propagação de influências, de persistências locais, de ciclos longos, de ausência de ideologias arquitetónicas firmemente estabelecidas”.[43]

Interior da Igreja – vista da porta principal

Nas laterais do arco triunfal e na parede divisória da nave central e do altar mor constam dois altares: o altar colateral norte consagrado ao Sagrado Coração de Maria e o altar colateral sul a S. Vicente. Cada um dos púlpitos está assente em mísula, coberto por um baldaquino decorado com talha dourada e encimado por um anjo com trombeta. O material usado em cada um destes púlpitos é a madeira a imitar mármore, destacando-se da policromia a cor verde e os marmoreados de cor castanha, bem como os dourados. O púlpito presente no alçado norte é meramente decorativo, apresentando porta em trompe l’oeil. O acesso ao púlpito sul é feito através de escadaria embutida na parede, com entrada a partir das portas do confessionário.

A cabeceira da igreja, à qual se acede através de arco triunfal de volta inteira, ostenta cobertura semelhante à nave e é mais elevada que o corpo principal da igreja, concorrendo para a cenografia típica da estética barroca. Apresenta janelas simétricas nos alçados, uma porta que dá acesso à sacristia e outra policromada em trompe-l’oeil no alçado sul. O duplo patamar formado pelos degraus culmina no retábulo em talha dourada composto por tribuna ladeada por colunas de fuste liso e capitel compósito sustentadas por mísulas douradas. Na parte superior apresenta entablamento e duplo frontão curvo com anjos. Encimando tudo está uma glória solar com um remate de folhagens douradas[44].  A decoração é exuberante com palmetas, grinaldas, querubins, sobre a superfície marmoreada em tons de verde azulado, rosa e dourado.

 Acede-se à sacristia através de uma porta no alçado norte, em cuja soleira são ainda visíveis motivos vegetalistas esculpidos que levantam a hipótese de poder ter sido usado material da antiga igreja nas obras de reedificação do atual templo, prática de resto muito habitual.

A sacristia é um espaço exíguo, próprio para cumprir as funções de registo, composto por uma janela da construção original e uma porta que dá acesso a novo compartimento. Este espaço de construção posterior, como comprova a sua janela que não obedece à cantaria de toda a igreja, bem como a cornija na parede exterior norte, denotam a existência de modificações posteriores no edifício.

Porta de acesso à sacristia

 A igreja está decorada com riquíssimo conjunto de painéis de azulejo atribuídos a Salvador de Sousa Carvalho (cerca de 1727-1810), ceramista de Coimbra. O conjunto de azulejaria apresenta, à entrada, a Fuga para o Egito e o Batismo de Cristo; nos alçados laterais da nave, a Anunciação, Visitação e Adoração dos Reis Magos; na capela-mor cenas da Paixão e Morte de Cristo. De todo este conjunto salientamos o caráter narrativo dos painéis historiados que transformam a decoração da igreja em catecismo, ao serviço das diretrizes do Concílio de Trento. A utilização do azulejo é um artifício para romper com a sobriedade clássica do edifício. A simplicidade do plano linear dos alçados laterais, a ausência de colunas ou pilastras e de frisos com reentrâncias ou saliências é compensada pelo carácter narrativo do azulejo, que realça o papel da parede como suporte da imagem para atrair as atenções dos fiéis.

Ao nível da técnica destacamos a forma recortada dos painéis pintados a amarelo e manganês com representação das folhagens a verde cobre.[45]

A Paróquia do séc. XVIII

No século XVIII a Paróquia continua a ser um espaço administrativo e vivencial por excelência das populações, apresentando-se como quadro de referência da conjugação ou da concorrência do poder real e do poder religioso, nos seus esforços em prol da “reforma” do reino. Segundo o historiador Magalhães Godinho, como elemento fundamental da organização do espaço a paróquia veio até a suplantar, já no século XIX, o próprio concelho.[46] O rei procurava através dela enraizar na comunidade “o poder civil e político”. Por sua vez, a Igreja nela fundava o seu programa de “promoção social e cultural dos povos” e de instrução religiosa. Mas as próprias comunidades afirmavam na paróquia e na sua gestão o entendimento da sua autonomia, reivindicando o respeito de tradições e direitos históricos solidificados pelo costume.[47]

No quadro eclesiástico, a Paróquia reafirmou-se como centro de poder religioso e de enquadramento das populações em resultado das diretrizes do Concílio de Trento (1545-1563). Os bispos, agentes cruciais da reforma tridentina, tentaram clarificar e levar a cabo os decretos conciliares, nomeadamente redigindo cartas exortatórias aos paroquianos e aos eclesiásticos[48], como acontecia com D. Jerónimo. De facto, a 19 de outubro de 1770, ainda como bispo de Portalegre, emitiu uma pastoral pela qual exortou os seus fiéis sobre o que deviam observar como verdadeiros católicos. A 4 de Março de 1773, enquanto bispo de Portalegre e eleito bispo da Guarda, escreveu nova carta pastoral e exortatória a todos os eclesiásticos e seculares do seu bispado, documento cujo conteúdo será discutido na Real Mesa Censória.[49] A 30 de Setembro do mesmo ano, agora já como bispo da Guarda, D. Jerónimo saudou os seus novos diocesanos em nova pastoral.

Como nos revela o inquérito geral feito às paróquias em 1758, a maior paróquia da Guarda era a da Sé, com 420 fogos, os quais representavam mais de metade (56,5%) da população urbana. As restantes paróquias da cidade pouco se distanciavam da dimensão média das paróquias rurais: cerca de 80 fogos.[50] São Vicente seria, pois, uma paróquia de pequena dimensão no contexto da cidade. Talvez por isso mesmo, a construção desta nova igreja adquiria um significado de certa forma modelar, sobretudo se atendermos à associação entre o edifício de culto e uma condigna residência para o pároco. As propostas de intervenção que surgiam, quer nos meios da governação quer da Igreja, cada vez mais tendiam a conceber-se, justamente, a partir da paróquia: “culto exterior, instrução e catequese, assistência aos pobres, fábrica da igreja, clero pago condignamente, instruído e ativo – eis os tópicos maiores que começavam a ser lugares comuns nas críticas e propostas de reforma à ação eclesiástica e paroquial” durante as décadas de 1770 a 1790.[51]

A construção de uma nova igreja em São Vicente exprime bem, a nosso ver, um projeto de reordenamento e reforma da Paróquia. Valoriza-a através da criação de um edifício por um lado certamente maior em dimensão física, por outro lado adequado à estética da ideologia resultante do Concílio de Trento. Um espaço capaz de albergar os seus fiéis num recinto sagrado comum e que, ao mesmo tempo, permite a encenação do poder do Bispo, quer como mecenas, quer como líder espiritual. O facto de ter sido construída uma residência paroquial anexa à igreja é também sintoma da necessária implicação do pároco na vida da paróquia. O pároco, segundo as orientações de Trento deveria residir junto da sua comunidade de fiéis, de modo a catequizar a sua paróquia.

No final do século XVIII a conjuntura económica era critica. As estruturas de Antigo Regime estavam em desagregação, mas tentavam resistir revigorando as suas exigências. A Paróquia demonstrava crescentes dificuldades em socorrer os seus necessitados e abundavam as queixas do clero paroquial contra os seus baixos rendimentos. Perante este quadro, como é que a Guarda que, no início do século XVIII, assistira já à edificação de um templo de características monumentais – a Igreja da Misericórdia - conseguiu na Paróquia de São Vicente congregar meios para a reedificação e manutenção de uma nova igreja? O bispo assumia o controle da situação ao promover a construção da igreja, como atesta a inscrição junto à pia batismal. Mas qual a origem das verbas para tal obra? A ausência de fontes não nos permite, por ora, avançar resposta a estas questões.

Considerações Finais

A construção da igreja resultou da ocupação de um espaço que desde a época medieva cumpriu funções religiosas. A igreja de São Vicente era um edifício central na vida da cidade. O novo templo foi obra da vontade de um bispo, figura integrada no seu tempo e promotor de dinamismo cultural da cidade e da região. Conhece-se a sua preocupação com a reforma do grande órgão da Sé, com a criação da escola de música para a qual convidou excelentes Mestres.[52] A ornamentação de outras igrejas paroquiais foi também alvo do seu mecenato. A igreja de S. Vicente resultou da implementação de um projeto feito por um homem de ascendência negra, num período marcado por estigmas sociais e étnicos, o que não incomodou D. Jerónimo. Por outro lado, a aceitação de um projetista vindo do círculo da Casa Pia, instituição onde germinavam os ecos do pensamento iluminista europeu, provam a abertura do bispo para o pensamento mais moderno e prenunciador da sociedade do século XIX.

Este bispo, Ministro do Santo Ofício, assumindo as orientações do Concílio de Trento, envolveu a paróquia na construção de uma religiosidade mais exuberante onde a cenografia e o espetáculo religioso surgiam como parte integrante do serviço litúrgico, afirmando o poder da Igreja. Na sua orientação espacial inversa à do anterior templo medieval e ao que era habitual, a nova igreja fecha-se em relação ao espaço da antiga judiaria, mas abre-se à comunidade cristã servindo de palco para a encenação do poder da igreja católica. A própria escadaria de acesso ao portal principal transforma a fachada num palco. 

A possibilidade de o pároco residir junto da igreja reedificada consolidava a presença do agente religioso na comunidade civil, com a dupla função de apoio e vigia da moralidade imposta pela hierarquia, como claramente explicavam as constituições sinodais promovidas após Trento.[53] O bispo D. Jerónimo exprimia deste modo o seu entendimento da importância da Paróquia e da necessidade de agir sobre ela. Por seu intermédio, através da reedificação de S. Vicente, contribuiu para a alteração das dinâmicas sociais e relacionais da Paróquia e promoveu o papel da igreja, não apenas em termos religiosos, mas também culturais e cívicos.

A função económica da antiga praça esvai-se; a função religiosa afirma-se. As tendas medievais, sob o alpendre mandado fazer pelo rei, estão agora fora de questão. A nova igreja é de maiores dimensões que a anterior. A praça reduziu-se enquanto espaço cívico e de atividade económica, mas ganhou capacidade de circulação com as vias que rodeiam a igreja e que permitiam a passagem das muitas procissões que a época valorizava. A transformação urbanística ganhou monumentalidade através do enquadramento arquitetónico do templo. Conquista-se, deste modo, um espaço onde os fiéis podiam demonstrar a sua fidelidade à fé de Roma e às hierarquias eclesiásticas. A Paróquia ganha um novo palco no qual a plasticidade barroca concorre para um verdadeiro espetáculo religioso, no qual o sacerdote assume a apologética do poder.

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Fontes manuscritas e Iconográficas

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    Intendência Geral de Polícia
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  • Biblioteca Nacional de Portugal,
    Biblioteca Nacional Digital
    http://purl.pt/index/geral/PT/about.html
  • Catálogo coletivo on-line dos Museus de Portugal,
    http://www.matriznet.dgpc.pt

 

[1] Rita Costa Gomes, A Guarda Medieval, 1200-1500, Lisboa, Sá da Costa, 1987, p. 53.

[2] Rita Costa Gomes, A Guarda Medieval…, p. 38.

[3] Maria José Ferro Tavares, “O Povoamento Judaico no território da diocese da Guarda (Período medieval e Moderno)”, in Praça Velha 36 (2016) , p. 65-87.

[4] Maria José Ferro Tavares, O Povoamento Judaico…, p.73.

[5]  “Item [G73] Um campo onde estava o alpendre em que costumavam estar as regateiras, que está sob a cabeceira da igreja de São Vicente e confronta com a rua pública. No tempo em que havia alpendre tinham que estar ali as regateiras, ainda que não quisessem; cada uma pagava ao rei, cada dia, dois dinheiros da moeda antiga.
Item [G74] Um alpendre que o rei tem na dita cidade, o qual o dito Rui Peres mandou fazer por ordem do dito senhor, no qual estão seis tendas. Situado no campo da Igreja de São Vicente, da parte da Rua Direita. O almoxarife do rei arrenda-as no dia da feira aos mercadores, que nelas queiram estar.” http://www.cei.pt/ohg/a-judiaria-da-guarda-em-1395.html - consultado a 4 de julho 2018.

[6] Rita Costa Gomes, A Guarda Medieval…, p.31.

[7] Maria José Ferro Tavares, O Povoamento Judaico…, p.75.

[8] Arquivo Distrital da Guarda (doravante ADGRD), Paroquiais de S. Vicente, Batismos, Folha 65 verso, Item 6, Rolo 743.

[9] ADGRD, Paroquiais da Sé, Óbitos, Folha 192, Item 7, Rolo 749.

[10] O retrato encontra-se no Paço Epicopal de Portalegre. Reproduz-se a partir de José Joaquim Pinto Geada, José Maurício [1752-1815], Mestre da Capela da Sé da Guarda, Guarda, Câmara Municipal da Guarda, 2003.

[11] Este caderno em papel abarca o período de 1757 e 1784 e apresenta um índice onomástico, por ordem alfabética do primeiro nome, das pessoas a quem é atribuída culpa. Cumpre destacar o registo que se encontra escrito nos fólios de 13 a 15, contendo uma síntese das culpas imputadas ao padre jesuíta Gabriel Malagrida. Arquivos Nacionais – Torre do Tombo, https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4490650, consultado em 04 de julho de 2018.

[12] Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Lisboa/São Paulo, Verbo, 1998-2003, Vol. 28, s.v. “Jerónimo Rogado do Carvalhal e Silva”.

[13] "Antes de 1740 e das diligências efetuadas em Roma por ordem de D. João V, o rei «suplicava» ao papa o provimento dos bispos nas dioceses antigas e apresentava os das novas. Depois de 1740, passou a «apresentá-los» ou «nomeá-los» todos.": José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal e do Império (1495-1777), Coimbra, Imprensa da Universidade, 2006, p. 562-563.

[14] José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal..., p. 536.

[15] José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal..., p. 538.

[16] José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal..., p. 568.

[17] José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal..., p. 568.

[18] José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal..., p. 569.

[19] José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal..., p. 543.

[20] Biblioteca Geral da Universidade, Catálogo da Colecção de Miscelâneas, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1988, p. 58.

[21] José Joaquim Pinto Geada , Obras de José Maurício (1752-1815), Mestre da Capela na Sé da Guarda, Guarda, Câmara Municipal, 2003, p. xi e xiii.

[22] Vitor Serrão, “Le tableau de Grão Vasco à Santa Maria de Porco”, Revue de l’Art 133 (2001-2003), p. 63.

[23] Benedito Lima Toledo, “Espaços Públicos: Mariana e Ouro Preto” in Manuel C. Teixeira (ed), Colóquio Portugal-Brasil “A Praça na Cidade Portuguesa”, Lisboa, Livros Horizonte, 2001, p. 177-178.

[24] Alpoim foi mestre do curso regular de engenharia militar denominado “Aulas de Artilharia e Uso de Fogos de Artifícios”, no Rio de Janeiro: Toledo, “Espaços Públicos..”, p. 179.

[25] Aldo Luiz Leoni (ed), Copiador de Algumas Cartas Particulares do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Dom Frei Manuel da Cruz, Bispo do Maranhão e Mariana (1739-1762), Brasília, Edições do Estado Federal, 2008, p. 239-243, 287.

[26] Cyrillo Volkmar Machado, Collecção de Memorias, Relativas Às Vidas dos Pintores, Escultores, Architetos, e Gravadores Portugueses, e dos Estrangeiros que estiverão em Portugal, Lisboa, Victorino Rodrigues da Silva, 1823, p. 288. Biblioteca Nacional Digital http://purl.pt/28030.

[27] “Alegoria ao Marquês de Pombal”, Biblioteca Nacional Digital http://purl.pt/6779.

[28] “Projecto para cemitério-tipo em Lisboa” de António Fernandes Rodrigues (1791), fonte que hoje se conserva no Arquivo da Torre do Tombo (Ministério do Reino, Coleção de plantas e outros documentos iconográficos, maço 454, cx.569, pl. 24, 25, 26), publicada em parte por Paula Cristina André dos Ramos Pinto Vieira, Os Cemitérios de Lisboa no século XIX. Pensar e construir o novo palco da memória, Dissertação de Mestrado em História da Arte Contemporânea, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1999, Volume 2. Este projeto do estabelecimento de 8 cemitérios em Lisboa foi iniciativa de Pina Manique.

[29] Esta gravura, representando o “aparato” de fogo de artifício construido para celebração pública, faz parte do espólio do Palácio de Queluz, e seria parte de uma série da qual se conhece pelo menos outra folha:  http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=1000806, Consultado em 4 de julho 2018.

[30] Cyrillo Volkmar Machado, Collecção…, p. 288.

[31] “Regras para os Estudos e Colégio da Real Casa Pia de Lisboa”, Direção Geral de Arquivos – Torre do Tombo, Intendência Geral da Polícia, Papéis Diversos, Maço 3, número 71.

[32] Luis A. de Oliveira Ramos, “Sobre os Ilustrados da academia de Coimbra”, Estudos em homenagem a João Francisco Marques, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001, vol. II, p. 313-326.

[33] José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal..., p. 549-550.

[34] José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal..., p. 549.

[35] Neuma Brilhante Rodrigues “Para a Utilidade do Estado e “Glória À Nação”: A real Casa Pia de Lisboa Nos Tempos de Pina Manique (1780-1805)”, Revista Territórios e Fronteiras 1, 2 (2008), p. 25-46.

[36] José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal..., p. 542.

[37] A suposta participação do padre Malagrida no episódio do atentado ao rei tornou-se preciosa acusação para os objetivos de Sebastião de Carvalho e Melo. Colocando pessoas da sua confiança na Inquisição, o ministro conseguiu dominar o processo referente ao padre Malagrida e, por conseguinte, a sua condenação em Auto de fé. Este processo levou à desacreditação da Companhia de Jesus e à sua consequente expulsão do país a 3 de setembro de 1759: Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição Portuguesa, 1536-1821, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2016, p. 336-343.

[38] Paulo Varela Gomes, A Cultura Arquitectónica e Artística em Portugal no século XVIII, Lisboa, Caminho, 1988, p. 80.      

[39] Paulo Varela Gomes, A Cultura Arquitetónica…, p. 84.

[40] Paulo Varela Gomes, A Cultura Arquitetónica…, p. 86.

[41] ADGRD, Registos Paroquiais da Paróquia de São Vicente, rolo 744; item 2: Registo de Batismos de São Vicente.

[42] Uma vez que não se encontram na Torre do Tombo os livros de registos de casamentos e óbitos da Paróquia de S. Vicente relativos ao período em questão, aguardamos a abertura à investigação do Arquivo Diocesano da Guarda, pois o acesso a outras fontes poderá comprovar esta hipótese.

[43] Paulo Varela Gomes,  A Cultura Arquitetónica…, pp. 12 e 13

[44] João Paulo Cardinal Martins das Neves, “Algumas considerações sobre a talha dourada e policromada de S. Vicente da Guarda”, in Praça Velha, nº 21, 2007, p. 63.

[45] http://www.patrimoniocultural.gov.pt/en/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74788 - consultado em 4 de julho 2018.

[46] Vitorino Magalhães Godinho, “Reflexão sobre Portugal e os Portugueses” in Ensaios e Estudos. Uma maneira de pensar, Lisboa, Sá da Costa, 2009, Vol. I, p. 58.

[47] José Viriato Capela, “A crise da paróquia no Antigo Regime: a paróquia rural portuguesa a caminho de um novo modelo de acção paroquial. Nova pastoral. Ensino e assistência” in Maria Marta Lobo de Araújo, Alexandra Esteves (eds), Marginalidade, Pobreza e Respostas Sociais na Península Ibérica, séculos XVI-XX, Braga, CITCEM, 2011, p. 89.

[48] José Viriato Capela, “A crise da paróquia…”, p. 90.

[49] O secretário da Real Mesa Censória, Alexandre Faria Manuel, referiu-se a esta carta pastoral numa missiva de 18 de Fevereiro de 1773 enviada de Lisboa a Frei Manuel do Cenáculo: Francisco António Lourenço Vaz (ed), Correspondência Inédita dirigida a Frei Manuel do Cenáculo. As Cartas de Joaquim Sá e Alexandre Faria Manuel, Évora, CIDEHUS, 2018. <http://books.openedition.org/cidehus/3346>

[50] José Viriato Capela, Henrique Matos (eds), As Freguesias do Distrito da Guarda nas Memórias Paroquiais de 1758, Braga, Universidade do Minho, 2013, p. 89.

[51]José Viriato Capela, “A crise da paróquia…”, p. 105.Veja-ser a escritura datada de 1791 relativa ao contrato de reedificação do orgão da Sé: ADGRD/NOT/NGRD3/00026

[52] José Joaquim Pinto Geada , José Maurício…, p.13

[53] Aires Diniz, “Constituições Sinodais do Bispado da Guarda”, Praça Velha 35 (2015), p. 135-157.
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